[Romance de Literatura] "Os Maias", Eça de Queirós [Porto Editora]



Titulo: Os Maias

Autor: Eça de Queirós

Editora: Porto Editora

Data de edição: Dezembro de 2015

Género: Romance de Literatura

Nº de paginas: 736

Opinião por Ana Santos, Blog A Dama dos Livros


O romance por "Episódios da vida romântica" ou, como é mais conhecido, "Os Maias",  foi publicado em 1888 e é considerado como a mais bem acabada obra de Eça de Queirós. Voltada para a alta sociedade Lisboeta, os maias faz parte de uma trilogia que, junto com "O Crime do Padre Amaro" e "Primo Basílio", foram denominadas por Eça de Queirós como cenas da vida portuguesa, já que nelas o autor examina a alta e pobre sociedade lisboeta. As criticas contidas nessas obras, segundo Eça, tinham a intenção de corrigir a hipocrisia daquela sociedade viçosamente burguesa.
Os Maias tem como tema principal o caso do incesto inconsciente entre Carlos da Maia e Madame Castro Gomes, que na verdade é Maria Eduarda, irmã desaparecida de Carlos. A historia se desenvolve, basicamente, em duas linhas de acção: a primeira, entorno do amor incestuoso de Carlos e Maria Eduarda; e, a Segunda, sobre a vida desregrada e ociosa da burguesia lisboeta. 
Os Maias, seja pelo lado polémico, devido ao tema abordado, seja como documento social, ainda hoje mantém uma enorme força critica, pois continua a instigar a consciência do leitor, promovendo o questionamento e a reflexão.
A narrativa inicia-se tendo como pano de fundo a descrição da reforma da imponente casa do Ramalhete, antiga residência dos maias em Lisboa. A casa havia sido fechada por D. Afonso quando esse fora viver na Quinta de Santa Olávia. Afonso Da Maia, resolveu regressar á antiga morada de seus antepassados quando soube que Carlos, seu neto, estava voltando de Coimbra, onde acabara de se formar em medicina. Certo de que Carlos, após de viver anos sob a agitação de Coimbra, Paris e Londres, preferiria morar em Lisboa, cidade melhor preparada para acolher um jovem medico e mais propicia para a instalação de um consultório, Afonso decide retornar a Lisboa e preparar o ramalhete para receber seu neto, ultimo descendente de fidalguia dos Maias. 
Em meio ás lembranças dos antepassados do velho D.Afonso, o narrador faz um flash back e, dessa forma, apresenta ao leitor a tragica historia daquela familia. Os maias, "fidalgos da Beira" e tradicionais menbros da sociedade de benfica, eram uma familia pouco numerosa, pelo que consta, Caetano da maia teve apenas um filho: Afonso. Esse, por sua vez, seguiu o exemplo do pai e produziu apenas um rebento: Pedro.

Pedro da Maia, ao contrario do que pretendia seu pai, foi educado "de acordo com padrões românticos". Crescera a beira da saia da mãe, D. Maria Eduarda Runa, e dentro dos preceitos da igreja. Quando adulto, tornou-se um homem frágil e melancólico, sentimento esse que é acentuado com a morte da mãe, a qual Pedro era demasiadamente ligado. Para o narrador da obra, Pedro é a composição caricatural da fraqueza dos românticos, que encontravam na morte a saída para desilusões da vida.
Toda a soturnidade desse personagem é quebrada com a chegada de Maria Monforte - ou a "Negreira"- como a jovem era mais conhecia na burguesia da epoca, em virtude de ela ser filha de um traficante de escravos. Apos corteja-la, Pedro, mesmo contra a vontade de seu pai, casa-se com ela. Esse matrimonio nao agrada a Afonso da maia, que nao perdoa a desobediencia de Pedro. No entanto, Pedro parece ter encontrado a felicidade, mesmo diante da propensão á infidelidade de sua esposa.
Dos momentos felizes do casal, nasceram dois filhos: Maria Eduarda e Carlos. Após o nascimento do ultimo, a "Negreira" Maria Monforte desenvolve ainda mais a sua tendência ao adultério, mas não o concretiza com nenhum homem daquela sociedade, pois neles faltava um elemento fundamental: a arte da sedução. 
No entanto, não demorou muito para que surgisse um homem que tivesse a chama para que a bela Maria Monforte traísse o ingénuo marido. Esse homem é Tancredo, um napolitano que afirmava ser um príncipe italiano e que procurava em portugal um local para fugir da perseguição de seus algozes. A infiel Negreira consumou a traição fugindo com o sedutor Tancredo. Na fuga, ela leva consigo a filha, Maria Eduarda, deixando Carlos com o marido. Pedro, inconformado, não com a traição em si, pois poderia perdoar sua esposa, mas com a fuga da sua amada, suicida-se.
Carlos cresce ao lado do seu avo, convito da morte de sua mae e de sua irma. Nao tendo a possibilidade de educar Pedro dentro de seus moldes, Afonso da maia torna para si a responsibilidade de educar o jovem Carlos. Esse, entao, é doutorino nos padroes britanicos. 
Mais tarde, Carlos vai a Coimbra estudar medicina. Lá conhece João da Ega, que transforma-se no fiel escudeiro do jovem maia. ( parece que há uma maior adesão afectiva do narrador com esse personagem. Ega caracteriza-se por ser um revolucionário, porem, inofensivo. Essa visão "Simpática" também aparece em outros personagens, como por exemplo: Afonso da Maia. Em contra partida, o narrador apresenta Dâmaso Salcede, um pretensioso sedutor de mulheres, de forma sarcástica e Eusebiozinho como sendo um produtor da debilidade moral e física do romantismo.)
Apos formar-se em medicina, Carlos da Maia retorna a lisboa e passa a exercer sua profissao apenas por gosto e nao por obrigação. Tambem com relação a vida o seu procedimento é o mesmo, pois em decorrencia de uma sociedade desprovida de motivação cientifica e culturais, nao se fixa em nada.
O jovem da Maia, conheceu muitas mulheres em sua estada em coimbra, o mesmo ocorrendo em lisboa. Seus casos amorosos quase sempre eram com mulheres casadas ou prostitutas. Apos alguns encontros amorosos com a condessa Gouvarinho, madame Castro Gomes, que por sua vez rompe com Castro Gomes, o qual não era oficialmente seu marido, para ir viver com Carlos da Maia.
O casal aguardava apenas a morte de D. Afonso, que não aprovava essa união para se casarem. No entanto, Joaquim Guimarães, um jornalista idoso, entrega a João Ega uma caixa de documentos a ele confiada por Maria Monforte, em Paris, para ser entregue a Carlos e a sua irmã. Ega lê os documentos contidos na caixa e , aterrorizado, mostra-os a Carlos, que enfim descobre que Madame Castro Gomes é, na verdade, sua irmã. Carlos, ainda desnorteado, volta a encontrar- se com a irmã, numa atitude incestuosa, porem já consciente.
Surpreendido com o reaparecimento da neta, que surgia como amante do próprio irmão, Afonso da Maia morre. A situação entre os dois só é solucionada após o funeral: Maria Eduarda, com a identidade esclarecida, vai para Paris e lá se casa; Carlos viaja para a América e Japão na companhia de Ega. Mais tarde, Carlos acaba fixando residência também em Paris, onde passa a ter uma vida ociosa. Dez anos depois, ao retornar a portugal, o estilo de vida dos dois amigos continua o mesmo, resultando uma visão desencantada da realidade, que marcou as produções artísticas do séculos XIX.



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