[Romance]"As Pupilas do senhor Reitor", de Júlio Dinis [Porto Editora]








Autor - Júlio Dinis 

Editora -  Porto Editora

Edição -  1 de 2011

Nº de paginas - 384 

Género -  Literário 


Opinião por Ana Santos, Blog A Dama Dos Livros

Daniel e Pedro eram dois irmãos que viviam na aldeia com o seu pai, José das Dornas. Pedro seguiu as pisadas do pai, sendo também lavrador. E, Daniel frequentava aulas de latim, para um dia mais tarde vir a ser padre. Mas esta ideia de ser padre nunca lhe agradou muito, Margarida estava-lhe no coração.
Margarida vivia com a sua irmã mais nova, e com a sua madrasta, que a maltratava e que lhe impunha duras regras e tarefas. Margarida era obrigada a ir todos os dias para o campo com o rebanho, e foi aí que conheceu o Daniel. Às tais tarefas que lhe eram impostas, Margarida recebia, às escondidas da madrasta, a ajuda da sua irmã Clara.
O tempo passou, a mãe/madrasta das duas raparigas morreu, e foi o Reitor da aldeia que ficou responsável pelas duas raparigas, o Daniel regressou do Porto, onde esteve a estudar medicina, Clara tornou-se noiva de Pedro e Margarida ainda sem ter apagado da memória o amor passado que é ainda presente.
 Entretanto ocorreram umas confusões entre Clara, Margarida, Pedro e Daniel, o que deu bastante que falar às beatas da aldeia. Mas, acabou-se tudo por resolver e esmorecer nas bocas do povo. Tal como Pedro e Clara, Daniel e Margarida, que desde crianças estavam apaixonados, decidiram casar-se.

Os costumes da pequena terra, as conversas que ali ouvia, inspiraram Júlio Dinis a escrever “As Pupilas do Senhor Reitor”, com a acção passada no cenário bucólico da uma aldeia do Minho, onde a harmonia rural estremecerá por causa de um drama amoroso. Mas não é apenas uma simples história de amor que o autor nos quer contar: os sentimentos de Margarida, Clara, Pedro e Daniel servem para denunciar o moralismo e a hipocrisia vigentes, que o padre reitor, responsável pela educação das duas órfãs, condena de forma veemente. Este tom ético e pedagógico perpassa a obra dinisiana, porque os livros, como o próprio escreveu, servem «para educarem, civilizarem e doutrinarem as massas».

Ao contrário dos valores do romantismo, Júlio Dinis pendia para o realismo das novelas inglesas. O jovem médico queria menos imaginação e mais verdade nas suas narrativas, personagens com dimensão psicológica, uma linguagem simples que transmitisse a veracidade desse mundo que começou a observar quando, doente, se recolheu em Ovar a tomar os bons ares do campo.

À semelhança do final feliz das Pupilas do Senhor Reitor, Júlio Dinis (1839-1871) tem uma visão  optimista do futuro de Portugal, onde acredita estar em construção uma sociedade justa e estável. Retrato fiel de uma época, este romance – para uns obra ligeira, para outros, como Alexandre Herculano, o primeiro romance do século XIX – é, seguramente, um clássico da literatura portuguesa.
Na segunda metade do século XIX, quando este livro foi escrito, Portugal despontava para a modernidade. A literatura vivia anos dourados com Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós, Almeida Garrett e Alexandre Herculano. Mas nenhum destes escritores tinha até então conseguido retratar fielmente o país rural que existia.







 Biografia de Júlio Dinis



Júlio Dinis, pseudónimo de Joaquim Guilherme Gomes Coelho, nasceu no Porto e foi entre esta cidade, Ovar e o Douro que passou grande parte da sua vida. Tirou o curso de medicina na  Escola Médica do Porto, aliando a profissão de médico à de escritor.
Os seus primeiros textos foram publicados em A Grinalda e em O Jornal do Comercio.
De uma família de tuberculosos (a  mãe e os irmãos morreram com essa doença), Júlio Dinis contrai também a doença e parte numa cura para a Madeira, cura esta que de pouco lhe valeu, falecendo ainda novo.


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