Titulo: Mistério na Cornualha
Autora: Liz Fenwick
Editora/ Chancela: Leya [Quinta Essência]
Edição: Julho de 2015
Género: Romance
Nº de Páginas: 320
Opinião por Ana Santos, Blog A Dama dos Livros
Este é o primeiro livro que leio de Liz Fenwick e é evidente o encanto pela Cornualha. Não só porque de uma forma ou de outra, ela inclui a palavra nos títulos dos seus livros, mas também porque considera, a região com descrições de paisagens que nos transportam para o local: não muito extensas, mas o suficiente para nos deslocar para uma realidade sensorial em que o azul da água, o cheiro das flores e os sons líricos da natureza nos tocam.
No Mistério na Cornualha, a autora surpreende-nos com duas personagens femininas muito fortes, cada uma à sua maneira, tanto nas fragilidades como nos gostos para a criatividade e para a cobertura de segredos.
Gabriella regressa a casa, que lhe trás recordações de infância e lhe cria um refugio de inquietações mais recentes, também com o intuito de passar os últimos dias de vida da avó Jaunty com ela, e desta forma ampará-la.
Cada uma com os seus traumas e desafios, as duas mulheres encontram no isolamento da cabana que lhes proporcionou as últimas duas décadas de memórias e vivências uma forma de recomeçar, reconstruir, aceitar que as feições nem sempre correm a nosso favor e procurar soluções de apaziguar e encontra-se com a sua consciência.
Com um discurso dual entre passado e presente, a forma como a autora montou a estrutura foi por vezes confusa, especialmente quando iniciava a interpretação de factos passados em itálico e os continuava normalmente, exigindo uma maior atenção na distinção dos vários momentos temporais. Como registo, que até então, teve o seu lado melancólico que ainda não tinha sentido em nenhum dos livros da sua autoria, e que não só era visível por alguma expressão de palavras, mas também pela condução do enredo, pela iteração de personagens, pela apresentação lírica de elementos em acolher, trazendo-nos a cada página pequenas surpresas, mas seguindo-as de uma languidez de discurso que cortava o impacto da descoberta. Este foi para mim um dos aspectos que contribuiu para o iludir das minhas expectativas quanto a este livro, não necessariamente por terem sido mal conduzidas, mas porque não as esperava e/ou pretendia obter numa leitura do momento.
Quanto às personagens secundárias, e como já vem sendo em alguns dos seus livros, elas têm profundidade e complexidade para poderem ser melhor exploradas, uma vez que, e seguidos os padrões habituais, estas se centram e apontam totalmente para a trama principal estabelecida pelas duas personagens-chave.
Quanto ao Fin, gostaria que a sua personagem estivesse afastado mais do papel do redentor, que me parece injusto e inapropriada ao atender à mensagem de resolução e emancipação que a autora tenta conquistar em favor das suas personagens. E ainda que a personagem seja dotada de pequenos elementos que pretensamente o retratam como anti-herói, a verdade é que ele nunca chega a sê-lo.
No geral, senti-me bem acompanhada nos últimos dias, tendo-me sido proporcionada uma leitura ainda assim envolvente, onde a paixão pela interligação de personagens e lugares é latente, e que ofereceu uma imersão completa no enredo.
Apesar de tudo, e dentro do registo do romance feminino (o qual quem nos acompanha já sabe que não é o meu forte), Liz Fenwick continua a surpreender-me e está a tornar-se uma autora que pretendo acompanhar. Ela é toda doçura, paixão pela etnografia dos lugares e redenção - e os seus livros são reconfortantes por esse motivo.
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